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ESPIRITUALIDADE NA ARTE


A arte é atemporal, simbólica, perfeita em sua manifestação (não no que tange à dimensão estética apenas) e abrangente em sua capacidade de “falar” sem palavras, incorporando mensagens abrigadas na alma. Os símbolos podem ser revelados de diversas maneiras, inclusive através da arte. Eles também mostram a dimensão espiritual, ou seja, que tudo parte de algo infinitamente maior e mais complexo que a individualidade. Alessandrini ressalta:

A linguagem da arte é a imagem, símbolo do mundo sentido e vivenciado sensorialmente: é sinal e som, é cheiro e sabor, é toque. É mágica pura que torna consciente a totalidade da dimensão espiritual do viver o Ser em contato com a Natureza. É ritmo que, em suas diferentes manifestações, constrói um corpo de conhecimento: imagem arquetípica e simbolicamente conectada com a Natureza da alma. (ALESSANDRINI, 1998, p. 33)

No meio de tantas crises, sejam existenciais, de ideias e ideais, seja na dificuldade de relacionamento familiar ou no meio social, seja profissional ou financeira, o ser humano busca de diferentes maneiras encontrar uma saída para amenizar seu desconforto. Como diz Souza

o trabalho com manifestações simbólicas do inconsciente, por meio de atividades plásticas expressivas, pode conduzir o ser humano ao encontro com sua espiritualidade, com o Sagrado, com a imago Dei, com o Numinoso que se esconde em si mesmo, levando ao amadurecimento da personalidade. (SOUZA, 2018, p. 27)

A arte trabalha no sentido de não permitir que o elemento diabólico, aquilo que se divide e fragmenta, seja predominante, pois organiza a mente, equilibrando-a com o elemento simbólico, aquele que une e religa. Ver a produção artística de uma pessoa é poder ler esse indivíduo, já que através da arte o indivíduo retrata o que sente, pensa, acredita, acolhe, teme, indo além da simples aparência do olhar ingênuo, na manifestação do sagrado e no emergir do que há de mais saudável na alma, naquele momento e contexto. Mesmo que apareçam elementos pouco harmônicos, aparentemente, o que se dá no momento é a tentativa de exatidão e equilíbrio, que muitas vezes encontra também seu caminho através do caótico, do elemento organizador e finalmente da organização cada vez mais aparente. O segredo está no fato de que tudo que se pode saber sobre o ser humano vem da mesma fonte, que é sua mente capaz de alcançar ao mesmo tempo o que é aparentemente apenas natural e também o que é aparentemente apenas transcendental. Numa referência aos trabalhos artísticos catalogados no Museu de Imagens do Inconsciente, Mello nos dá um norte sobre a intersecção entre arte, ciência, saúde e transcendência:

As imagens em si constituem material sadio, universal, e muitas vezes, a compreensão de seus possíveis sentidos faz-se por meio da pesquisa comparada com as histórias da religião, da arte e da mitologia, entre outras, numa verdadeira arqueologia da psique. (MELLO, 2014, p. 21)


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALLESSANDRINI, Cristina Dias. A Criatividade na Educação para a Paz. Arte-Terapia, São Paulo, v. 2, n. 2, 1998.

MELLO, Luiz Carlos. Nise da Silveira, caminhos de uma psiquiatra rebelde. Rio de Janeiro: Automática Edições, 2014.

SOUZA, Otília Rosângela. Conexão com o Sagrado. Campinas: Labour, 2018.


Texto retirado do livro “Arteterapia e Gênesis - O ser humano como cocriador do Universo” da professora Fabíola Gaspar.

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